A Palavra é Livro
Por Djine Klein
I.
O livro. O
desesperado livro nas mãos. Abrir a porta e que as palavras da página espiam...
Quem vem lá? Aquele o livro liberta tanto umas mil vozes de silêncio e pede –
escute-me bem com olhos. Do autor – escapa o pensar aprisionado no excesso de
criatividade, ele só fala em língua de poesia. Antes ressalta o impossível,
depois refresca memórias e arde no ledor uma narrativa onde cada palavra diz o
mundo inteiro, desde o “Antigamente”. Encaminhando
com carícia, mas às vezes de tanto dizer coisas de humanidades as palavras ferem-lhe.
Acontece então o extravio da razão, ou alguém acha o que nunca ninguém tinha
perdido. Em essência estás sendo fisgado para bordo de um barco. No fim da
viagem retira-se o poeta, fecham-se as páginas e você fica com a sensação de plenitude,
um contentamento como um felino adormecendo o Sol... Ou ave com pena de se voar
dali as páginas, talvez apenas um remo, convencido que estás de ser um objeto
lírico nas mãos de um velho Griô. E agora que já conheces a verdade, toda uma
longa narrativa pode ser cada palavra ou frase um absoluto poema. Então já não
poderás aceitar uma qualquer literaturas, somente se for a experiência um deslizar
sobre águas transparentes com fino azul no fundo. O livro pode ser “Estórias
Absonhadas”, o poeta Mia Couto - um africano transparente até nas nervuras de
ser África.
Quando a poesia se
cansa de ser verso é assim, o mínimo verso dentro dele uma fábula, um conto antigo
de acontecer no agora. Nessa arte poetas escrevem muitos desassossegos que até
parece que todos miravam os seus. Eu até fazia um contrapelo de paz, abrem-me outras
janelas, entrevejo suas asas e peço um estímulo para as próprias minhas me voar.
Mas acontece outros assombramentos, foi um desviar o destino não escrevi - Mariamar
ela bate em minha porta, o livro do alento “A confissão da leoa”. Outro dia,
antes me atingiu uma tarde de tédio teimosa de não passar, Mary Bloom surgiu na
janela e eu que dedilhava a Odisséia no momento fique abensombrado. Depois quis
caminhar outra paisagem, chamei o fiel companheiro para passeio nos mais longes
do quintal, Diadorim espreitava de uma moita. Ao entardecer daquele e outros
dias pirilampos “absonhados” acenaram-me lanterninhas... Eu já era uma criança
antiga batendo na porta de alguém que logo reconheci. Anulava-me todas as
farpas com um me olhar com ternura. A criatura uma mulher que tanto antevi para
ser a mãe do caçador. Devolvi o bodoque, as duas hastes do estilingue agreguei cataventos.
Então chamei pra rua todos os meus fantasmas porque e ainda não eram arte em
biografia inventada?...
E os livros? Quem leu que
nos diga o seu exaspero.
II. Poetas
prosadores
É difícil dizer o que acontece com alguns
poetas. Pensava, mas se descobrisse a fórmula, se desvendasse o segredo! E
tanto quis ser assim escrevinhador, encher páginas e mais páginas, e como eles
nunca perder a novidade, a palavra sempre nova e antiga ressaltando verdade dos
sentidos.
Sempre me rendo aos
contadores de histórias, mas para os (des) inventores de gramáticas estou de
joelhos. Narrando cantam a estória desliza - fazem a crônica com versos
sublimados. Inventam para desvendar nas palavras o que nunca se viu, te botam num
estado de aflição que nem sei. Ou é lamber as últimas palavras da narrativa com
os olhos já roçando os princípios daquele mesmo texto. Até acho que nesses
autores a escrita é mais um rodopio, ou banho de chuva e que eras tu a criança brincando.
Sopram eles em tua alma ar azul e, um fogo arde inserir palavras recém inventadas
em ledores distraídos.
Desconheço a África de Mia
Couto, mas a sinto inteira na sua narrativa e sempre estive lá, da escrita ao ardido
daquela terra longe. Também não sei o Pantanal, mas meus pés já sabiam alguns
alagados que Manoel me refresca. O Sertão era apenas duas palavras esperando o
complemento, Sertão? Veredas, entrementes Rosa reinventa aquilo tudo com poesia
de doer belezas até em bravio jagunço. E
Odisséia! Agora pode ser apenas um dia de tédio, não como antes os heróis brincam
de guerra. E desinventor do Clássico ousa Joyce. Os livros dos citados
deliradores são – Arte de fino trato – que confirme quem soube ler.
E os adjetivos - Mia sopra
neles com os pés descalços, viram personagem gente. Joyce engendra a palavra
cheia de distância, você olha e diz que é difícil, olha outra vez com vagar e
salta uma odisseia por palavra. Rosa é a
terra em transe, o leitor agoniado com pés descalços na página atravessando
aquele árido todo. Mas com Manoel a alma descansa, nunca mais que te salva de
ser girino, um cisco ou seixo, assim que eras o menino visando o mar atrás da
casa, numa tarde sonolenta e silêncio de gente grande. E o quarteto fantástico
- escreveram como se quisessem carimbar imagens em nossa memória, e que nem o
tempo escrevendo desmemoria apaga a vontade de (re) conferir aquelas paisagens
pintadas com palavras sempre frescas e chamas.
III. Livros
O Livro.
Não importa se o livro é reluzente de novidade ou se edição antiga de ter sido
garimpada em tesouro empoeirado. Não vendemos livros. O seu livro abarca um
algo qualquer ou coisa que pensas ser especial? Quer contar/escrever sobre um
livro? Se nos escrever como pensam os apaixonados, o texto se for sobre a arte
da palavra e não pretender verdades (nos conformamos com ensaios) pode parar em
página do Jornal de Artes.
Então diga antes, diga logo,
antes que outros se animem e cheguem antes. Escreva-nos com loucura sobre um apaixonante
livro. Escreva-nos embriagado. Revele-nos O Livro ou vários. Apresente-nos personagens
em carne de palavra, antigo de pena ou recém pisando a terra da página.
O bom livro é sempre assim,
primeiro tira do prumo, perdes o chão, mas depois da escola que tem dentro
adquires juízo. Eu nunca aceito uma brochura que não tenha na orelha um par de
asas. Isso é de necessidade que ás vezes as minhas ficam cansadas.
Escreva-nos sobre o livro que mais lhe deixou
impressão e, que nem o tempo apaga a Cicatriz. A Palavra é Livro
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