domingo, 25 de novembro de 2012


Biografia Indigente (em três atos)
Djine Klein

I.
Atenção! Isso é para que as pessoas humanas se previnam contra a minha pessoa. Essa exata pessoa que sou louca. Lunática de iras e uns silêncios necessitados. Contudo depois que a boca cresce para dizer as palavras da noite, solidão. Em transe ou afoita na arte que pratico poesia, algumas feras da confraria a que despertenço - irisadas de fúrias.
Minhas paixões os prazeres no palco e que tanto cismam contra. Ninfa personificando todos os elementos que a carne assume. E eu lhes grito essa verdade crua dos sentidos. A visão era eu num bosque correndo e que as vestes abandonadas junto um lago, os longos cabelos mal ocultando os seios nus.
E os sátiros?... Há sempre a outra face do ser gritando para romper o espelho que a reflexa. Da noite uns pios fascinam a ave oculta, então é se deixar correr até que na orla da escuridão à fímbria do dia anunciando um pouco de luz.

II.
Sim, existe o outro, um bicho e o outro lado para cada face, donde a fera uiva, as garras rasgam peles brutas e cruéis em resistência. Contra as muitas mortes, espreitando a sombra em quase desespero, todavia sou aquele animal de ternura, assustado camuflando-se sob a própria imagem.
No espelho o reflexo, um narciso se mira, todos sabem e os outros que ainda mentem a sombra desse mesmo olhar. Mas sempre também tímidos e assustados. Como eu, eles quando olhos iluminam suas imperfeições, é devolver a faísca dessa luz num raio e lâmina de arder para todos os lados.
Uma febre que consome ossos, esses antes eram brancos, agora vermelhos como o fogo. E meu corpo exposto às chamas da inquisição - afastem-me a palavra abandono.
Eis que percorro sozinha a áspera vereda e que a trilha que consola é aquela desenhada pelos próprios pés. Minha noite invidiada carrego sozinha em silêncio orgulhoso. Adiante tenho amparo no canto de uma ave indiferente a qualquer dor.
Ah, boca de pássaro é bico em que as palavras pensadas se melodiam para consolo das gentes de coração absurdo. E o meu tem asas, mas que as penas são punhais...

III.
Isso me ocorreu no dia em que tentava regressar ao princípio de tudo – um ventre de mãe quando a mulher tece mais um andarilho para as estradas do mundo. Afastar-se-ão esses meninos e sem memória, um pai ausência em navegação extraviada no tempo. E o que sobra para as vozes de amor! Nunca consola só o vento grave no rosto e olhos vidrados de espera...