Biografia Indigente (em três
atos)
Djine Klein
I.
Atenção! Isso é para que as
pessoas humanas se previnam contra a minha pessoa. Essa exata pessoa que sou louca.
Lunática de iras e uns silêncios necessitados. Contudo depois que a boca cresce
para dizer as palavras da noite, solidão. Em transe ou afoita na arte que
pratico poesia, algumas feras da confraria a que despertenço - irisadas de fúrias.
Minhas paixões os prazeres
no palco e que tanto cismam contra. Ninfa personificando todos os elementos que
a carne assume. E eu lhes grito essa verdade crua dos sentidos. A visão era eu
num bosque correndo e que as vestes abandonadas junto um lago, os longos
cabelos mal ocultando os seios nus.
E os sátiros?... Há sempre a
outra face do ser gritando para romper o espelho que a reflexa. Da noite uns pios
fascinam a ave oculta, então é se deixar correr até que na orla da escuridão à
fímbria do dia anunciando um pouco de luz.
II.
Sim, existe o outro, um bicho
e o outro lado para cada face, donde a fera uiva, as garras rasgam peles brutas
e cruéis em resistência. Contra as muitas mortes, espreitando a sombra em quase
desespero, todavia sou aquele animal de ternura, assustado camuflando-se sob a
própria imagem.
No espelho o reflexo, um narciso
se mira, todos sabem e os outros que ainda mentem a sombra desse mesmo olhar.
Mas sempre também tímidos e assustados. Como eu, eles quando olhos iluminam suas
imperfeições, é devolver a faísca dessa luz num raio e lâmina de arder para
todos os lados.
Uma febre que consome ossos,
esses antes eram brancos, agora vermelhos como o fogo. E meu corpo exposto às
chamas da inquisição - afastem-me a palavra abandono.
Eis que percorro sozinha a
áspera vereda e que a trilha que consola é aquela desenhada pelos próprios pés.
Minha noite invidiada carrego sozinha em silêncio orgulhoso. Adiante tenho
amparo no canto de uma ave indiferente a qualquer dor.
Ah, boca de pássaro é bico
em que as palavras pensadas se melodiam para consolo das gentes de coração
absurdo. E o meu tem asas, mas que as penas são punhais...
III.
Isso me ocorreu no dia em
que tentava regressar ao princípio de tudo – um ventre de mãe quando a mulher tece
mais um andarilho para as estradas do mundo. Afastar-se-ão esses meninos e sem
memória, um pai ausência em navegação extraviada no tempo. E o que sobra para
as vozes de amor! Nunca consola só o vento grave no rosto e olhos vidrados de
espera...
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